Política Quotidiana

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quarta-feira, fevereiro 22, 2006

1 ANO

Aproveitando a boleia do post anterior, faço um balanço de 1 ano de Governo.

Tenho que começar por dizer que José Sócrates está longe de corresponder ao paradigma de político que esteve presente no despertar da minha consciência cívica.

Não se trata de uma declaração de culpa, mas apenas de uma constatação. Sócrates é filho do Estado Social e não seu pai. Esperar que os políticos de hoje tenham a mundividência dos de outrora é, no mínimo, esperar o absurdo; e é sobretudo absurdo esperar que a geração da abundância reconheça e valore um político na acepção “clássica” do termo.

Posto isto, devo dizer que me basta que Sócrates consiga iniciar a Reforma do Estado, erigindo muros de betão atrás de si, evitando assim que haja retrocessos, para que eu esteja, nas próximas legislativas, na fila da frente, histérico a agitar a bandeirinha e a gritar, rouco, suado, tresandando a nicotina e à mítica carne de porco rançoso que servem nas campanhas.

Por duas razões.

Primeiro, porque ao contrário do discurso esquizofrénico nacional, não compete ao Estado, numa sociedade que defende a autónoma privada e a livre iniciativa, criar empregos, dirigir a economia ou sequer prover todas as necessidades que alguém se lembre de reivindicar.

Segundo, porque o Estado, ou melhor, o aparelho de Estado, é ainda uma coisa gigantesca, que lentamente esmaga tudo à sua volta, boas e más iniciativas. Transformar um aparelho autorizador, burocrático, que se multiplica em serviços supérfluos e sem justificação para além da inércia, num aparelho fiscalizador, que permita a liberdade de actuação (económica, sobretudo) das pessoas, mas que aja célere e eficazmente sempre que haja violação das regras é, ou deve ser, o grande objectivo deste Governo.

Isto é o que eu desejo, necessariamente divergente da realidade.

Parece-me claro que Sócrates, com os inevitáveis erros de quem tem decidido ignorando (felizmente) o jogo demagógico do “o que hoje defendemos na oposição, amanhã criticaremos no Governo e vice-versa” (aquela senhora, certamente brilhante, pois é especialista em cultura e em defesa, Dr.ª Caeiro de seu nome, é apenas o último exemplo da mediocridade que me lembro), tem seguido esse caminho.

É verdade que há show off, que há propaganda, que eventualmente existem erros crassos, mas o facto é que Sócrates tem sido claro nas suas opções.

Mas, e há sempre um mas, ainda não se conseguiu libertar (e duvido que consiga) desse apêndice fétido que corrói o PS (e todos os outros partidos): gente que nunca fez nada na vida para além de arruinar os serviços públicos por onde passam e instalam os amigos, os amantes e sabe-se lá mais quem.

Espero que, apesar desta evidente falha, José Sócrates consiga, no mínimo racionalizar a Administração Pública.

Neste primeiro ano, já picou o monstro em diversos pontos pútridos, que dorido, barafusta. Espero que continue, indiferente aos parasitas que, em muitos casos, passaram muito para além da cútis da besta.