Política Quotidiana

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quarta-feira, fevereiro 22, 2006

PORQUE É QUE EU NÃO QUERO QUE O PCP SE EXTINGA

Para quem, como eu, acha que o comunismo é um apêndice que desaparecerá, mais cedo ou mais tarde, é frequente questionar sobre a utilidade do mesmo.

Vem tudo isto a propósito da posição do PCP, defendida pela deputada Luísa Mesquita, sobre o encerramento de escolas do 1º Ciclo. Uma coisa é certa. Como o PCP adopta, de princípio, uma posição de guerrilha face a um sistema que não defende (a democracia dita liberal), os seus guerrilheiros, imbuídos do espírito de missão, estão bem preparados, são aguerridos, mesmo quando só dão tiros de pólvora seca.

O PCP acha que o Estado deve criar infra-estruturas para evitar a desertificação. Leia-se, deve manter escolas para meia dúzia de alunos, erigir tribunais que passam o tempo a julgar casos de agressão entre vizinhos à sachada, um centro de saúde em cada aldeia, enfim, uma grande panóplia de serviços públicos.

Aquilo que o PCP nunca conseguiu demonstrar é a relação directa entre a manutenção das pessoas nos seus lugares e a existência, nesses lugares, de serviços públicos. Pelo contrário, ninguém fica numa terra só porque lá existe uma repartição de finanças. No mínimo, as pessoas precisam de fontes de rendimento. De emprego. Aquilo que se passa em muitos lugares desertificados do nosso País é anedótico. Como a única fonte de rendimentos existente é o emprego no Estado (ou na Câmara, o que vai dar ao mesmo), só restam os empregados públicos, os seus filhos e os velhos. E claro, as empresas privadas que têm como único cliente o Estado ou a Autarquia Local.

Nenhum Estado democrático, ou que se reclame democrático, pode obrigar as pessoas a permanecerem num determinado sítio e muito menos a determinar a residência dos seus cidadãos compulsivamente. Pode eventualmente dar vantagens a quem decida ficar num determinado sítio. Pode discriminar positivamente, pode informar os seus cidadãos sobre o ordenamento do território e sobre o ambiente, mas a escolha final terá que ser de cada um.

Pergunta-se, perante esta evidência, como é que o PCP continua a defender soluções que partem de premissas falsas?

O PCP pode aparentar que é um partido democrático, mas não é. Defende o centralismo democrático. Para o PCP, o emprego, por definição é público, salvo raras e muito minoritárias excepções. Revê-se na história, mesmo que adulterada, da União Soviética, onde, por decisão administrativa, milhares de pessoas foram deslocadas.

Por uma questão de seriedade não vou aqui afirmar que o PCP quer reeditar gulags, mas fica claro que por detrás da retórica mais ou menos bem delineada dos comunistas, que se escuda na defesa das populações rurais, do diálogo, do aprofundamento da democracia, etc., está uma visão tenebrosa que considera a liberdade de escolha um vírus a combater, porque perante a perfeição do ideário comunista, essa liberdade não faz sentido.

Agradeço pois à Sr.ª Deputada Luísa Mesquita e aos seus pares, o favor de me relembrarem ciclicamente porque é que eu gosto tanto da democracia, mesmo quando ela não está de boa saúde.

Bem hajam